22 outubro 2014

Passaporte de um Bombeiro - Marco Guerreiro

NOME: Marco Alexandre Neto Guerreiro
IDADE: 36
EMIGROU PARA: Angola
HÁ QUANTOS ANOS: 3 anos
BOMBEIRO EM: Bombeiros Voluntários de Albufeira
POSTO: 1ª classe
CUMPRIU QUANTOS ANOS DE SERVIÇO: 20 anos


Por motivos técnicos com o servidor, já resolvidos, na semana passada não nos foi possível apresentar um novo PASSAPORTE de um BOMBEIRO. Por esse motivo pedimos desculpa a todos, quantos de uma forma entusiástica têm acompanhado este nosso projecto.

Cada vez mais no nosso País, o número de Bombeiros a serem obrigados a abandonar a sua terra, a sua Corporação, tem aumentado.

Na sua grande maioria foram em busca de uma melhor qualidade de vida para si e para os seus.
Existem Corporações de Bombeiros que viram partir dos seus quadros, dezenas de Bombeiros.
E é com esses Bombeiros que nós andamos a tentar falar.

São esses Bombeiros que, um a um, uma vez por semana, vos iremos dar aqui a conhecer!

Saber quem são, e para onde foram… e que mensagem têm para nos deixar. 


DB - Bom dia, antes de mais, deixe-me agradecer-lhe por ter aceitado o nosso convite e colaborar connosco. Queira fazer o favor de se apresentar:

Marco Guerreiro - Bom dia, meu nome é Marco Guerreiro e desde já sempre um prazer mesmo á distância mantermos esta ligação de família Bombeiros, sempre unida.

DB - Pertence a que Corpo de Bombeiros?

MG - Bombeiros de Albufeira que sempre considerei minha segunda casa.

DB – Quantos anos tem de serviço?

MG - 20 anos de bombeiro, entrei ainda na flor da idade, ingressei no quadro activo com os 14 anos na altura cadete, sem duvida os melhores tempos de bombeiro.

DB - Como ficou a sua situação no quadro do seu CB?

MG - Neste momento encontro-me no quadro de reserva.

DB – Todos nós sabemos que, mesmo fora do nosso País, a adrenalina ainda corre nas veias quando se ouvem sirenes, não é? Sente saudades?

MG - Sinceramente algo inexplicável só mesmo a quem corre nas veias, e aqui no país onde me encontro, possuindo a bagagem que carreguei para aqui nesta matéria de bombeiros, faz-nos bastante confusão certos cenários que por vezes me deparo, não podendo contribuir com a nossa ajuda. (País muito complicado)

DB – Como todos sabemos, felizmente para os que estão fora, a Legislação em vigor permite que possam ser Bombeiros noutro País, mantendo-se na mesma no Quadro de Reserva do seu Corpo de Bombeiros em Portugal. É Bombeiro no País onde se encontra?

MG - Rsrs, Não, mas continuo ligado á área do pré-hospitalar, neste momento exerço a função de coordenador de dois programas muito interessantes dentro de uma empresa de assistência medica em Luanda, o primeiro coordeno todas as evacuações aeromédicas dentro do país ( Angola) e para o exterior, interessante nunca no nosso pais de origem teríamos apesar da formação excessiva de chegar a este status, contudo num pais onde a emergência é open mint permite esta nova experiência, o segundo programa da minha responsabilidade coordenador de medstaff, coloco e coordeno profissionais de saúde colocados em locais remotos espalhados por este território, tendo então aqui a presença de alguns bombeiros emigrantes alguns deles vindos da FEB.
Curiosamente tenho outro projeto em vista onde terei de recorrer novamente ao recrutamento de novos bombeiros.


DB - O que o levou a sair do País?

MG - Como a maioritariamente, na altura por razões financeiras, uma família nas mãos para lhes puder atribuir uma melhor perspectiva de vida, na altura em comunhão de bens, trabalhava-mos os dois, durante a época de Ecins sacrificava-se mais um pouco mas era insuficiente, pois tenho um regimento de 3 filhas. rsrsrsrs

DB – Era assalariado no seu Corpo de Bombeiros?

MG - Sim era assalariado.

DB – Imaginamos que não tenho sido uma decisão nada fácil, mas… assim vai o nosso País. O que recorda do seu último dia de serviço?

MG - No meu ultimo dia de serviço até já nem me recordo, mas sei que no mês antes recordo-me perfeitamente de ter integrado a Grif do Algarve para o combate ao incêndio de Tomar, e este foi o ultimo grande incêndio que colaborei.

DB – Qual foi a sensação, no dia em que fez a carta ou informou o seu Comandante?

MG - Determinado para a missão a seguir, mas no entanto um sentimento de perda, todos aqueles anos de união, espírito de equipa, espírito de ajuda, estava no fim. ( sensação estranha)

DB – Acompanha com frequência as noticias sobre os Bombeiros?

MG - Acompanho, todos os dias assim que possa dou uma olhadela pela pagina na ANPC, ocorrências activas.

DB – De tantos e tantos anos em que se registaram Bombeiros falecidos no combate às chamas, o ano passado irá ficar para sempre marcado na memória dos portugueses, e principalmente dos Bombeiros.
O que acha que fez com que as situações ocorridas o ano passado marcassem tanto, fossem sentidas e vividas de uma forma tão intensa e ao mesmo tempo tão triste?

MG - Preferia nem comentar, senti-me inútil, ouve momentos que evitava ligar a TV, mas quando não a ligava deparava-me com mais uma triste noticia pelas redes sociais, quem pertence á família sente.

DB – Muito se falou e especulou sobre as causas de tal desgraça. Falou-se sobre muito, desde os Equipamentos de Protecção Individual, às comunicações SIRESP, falta de segurança, incumprimento de ordens, relatórios, etc.
Com base na sua experiência nos seus anos como Bombeiro no activo, tem alguma opinião formada, ideia em relação ao sucedido o ano passado?

MG - A culpa nunca morre solteira, EPI, a nós bombeiros não soa muito bem , pois qualquer tipo de EPI naquele flagelo penso que não ia minimizar as mortes, falta formação em alguns casos pontuais sim, nomeadamente colocação de equipas em vales encaixados, a primeira morte, não me entra na cabeça, VTTU em terreno plano incêndio deflagrava com alguma intensidade sim, combustível fino, a minha pergunta é só mesmo essa, considerando as condições do terreno plano, como ele fica lá…. Enfim ninguém é ninguém para julgar alguém, mas existe seguramente a necessidade de manutenção das competências.

DB - Em quanto tempo, se for esse o caso, espera regressar a Portugal e voltar assim a defender a causa que durante tantos anos defendeu?

MG - Neste momento não tenho essa previsão, se a médio prazo voltar-mos a falar pode ser que tenha algumas perspetivas.

DB - Tem ideia de quantos Bombeiros e Bombeiras perdeu a sua Corporação nos últimos anos devido à emigração?

MG - Só para Angola pelo menos 3, outros para Brazil, Inglaterra, já contamos pelo menos com 6 elementos

DB – E a nível Nacional?

MG - Não faço ideia.

DB – Pois, infelizmente nós também não lhe sabemos dar uma resposta concreta. Sabemos que é um numero que tende a crescer de dia para dia, sabemos que existem Corporações de Bombeiros que perderam mais de metade dos seus elementos, mas… a cada dia que passa, em Portugal, a percentagem de emigração aumenta, e muito, e dentro desse “muito” fazem parte muitos Bombeiros.
Que mensagem tem a deixar a todos os seus Camaradas?

MG - Determinação, e não tenham receio de abraçar um novo projecto dentro ou fora, importante é ficarmos sempre ligados á família bombeiros.


Muito Obrigado por ter respondido a estas perguntas, e pela sua colaboração. De certo que as mensagens de apoio dos nossos leitores irão começar a aparecer, demonstrado assim o Agradecimento pelos anos que em Portugal serviu a causa em prol e bem da Humanidade – Bombeiro.

Foi um prazer enorme tê-lo conhecido e termos tido a oportunidade de partilhar com todos estas pequenas letras.


Um Bem-Hajam

0 comentários:

Enviar um comentário

'; (function() { var dsq = document.createElement('script'); dsq.type = 'text/javascript'; dsq.async = true; dsq.src = '//' + disqus_shortname + '.disqus.com/embed.js'; (document.getElementsByTagName('head')[0] || document.getElementsByTagName('body')[0]).appendChild(dsq); })();